Escombros

Os brasileiros, tão embebidos de asnices, de imbecilidades musicais, literárias, intelectuais, que não percebem que vivem em um meio cultural empobrecedor, que esmaga toda personalidade singular, tratando-a como estranha à atual cultura brasileira, tida, esta, como saudável, a melhor cultura do mundo, superior à do passado, pintada, esta, como medíocre. Estão os brasileiros tão habituados à mediocridade, ao vazio político, literário, musical, que negam a própria cultura superior que seus ascendentes produziram, e não reconhecem, nos melhores artistas que o Brasil já produziu, valor superior. Há quarenta, cinqüenta anos, lia-se, no Brasil, Érico Veríssimo, Cecília Meireles, e ouvia-se Francisco Alves, Pixinguinha, escritores e cantores populares. Hoje, no alvorecer do século XXI, quais escritores os brasileiros lêem, e quais músicas os brasileiros ouvem? A degradação cultural brasileira é visível; muitos brasileiros, todavia, negam-se a vê-la. Para vê-la, têm de abandonar as músicas que ouvem, os livros que lêem, e olhar para o passado, e, com denodo, estudar as obras de José Bonifácio de Andrada e Silva, Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Rui Barbosa, Herberto Sales, Mário Ferreira dos Santos, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Manuel Bandeira, Lúcio Cardoso, Gustavo Corção, Gonçalves Dias, Raul Pompéia, Silvio Romero, dentre outros, e reconhecer-lhes a superioridade, para tomar consciência da miséria cultural atual, e com bravura sacrificar-se para reerguer a cultura brasileira dos escombros.