Comentários ao artigo, de Olavo de Carvalho, publicado, no site Mídia Sem Máscara, no dia 05/11/2015, Estupidez endêmica

07/01/2016 16:40

Não há dúvidas de que grassam, no Brasil, idéias absurdas como as apresentadas neste artigo, e não são poucas. O Brasil é pródigo em tolices. Uma delas é a crença de que não existe idéias de Direita e idéias de Esquerda, para ficarmos apenas nas palavras-chaves do vocabulário convencionado pelos intelectuais, pelos economistas, pelos políticos. Não estou a fazer juízo de valor das idéias enfeixadas em cada um dos grupos que atendem, um, pelo nome de Direita, o outro, pelo nome de Esquerda. Quero apenas tratar do absurdo que é considerar como inexistente, hoje, a Direita, e a Esquerda, e apresentar como verdade incontestável um pacote de idéias políticas e econômicas apenas, cujo conteúdo representa todas as idéias que há. E muitas pessoas, pessoas que se dizem, e se consideram, cultas, e bem preparadas, e sagazes - mas são tolas, e não percebem a tolice que defendem, e que divulgam -, o repetem, acriticamente. Muitas pessoas dizem que não há mais Direita e Esquerda porque o Muro de Berlim foi derrubado em 1989. Acreditam que, devido à derrubada de um muro, as idéias que lhe davam suporte foram eliminadas, e não percebem elas que o que deixou de existir foi o poder político e econômico que dava suporte ao muro, contendo isoladas umas das outras as pessoas de um lado e do outro lado dele, e apenas isso. E não pode-se desconsiderar uma explicação para tal evento histórico: o muro foi derrubado pelas mesmas forças que o sustentavam, com o propósito de impor as suas idéias por outros meios, persuadindo as pessoas de que elas não mais existem. A derrubada do Muro de Berlim não indica o fim das diferenças ideológicas que lhe davam suporte. Muitas pessoas, ao lerem um artigo de algum intelectual semi-letrado, incapaz de raciocinar, ou mero propagandista de determinados projetos de poder, cujo teor consiste na defesa da supressão da Esquerda e da Direita, repetem, sem hesitar, maquinalmente, tal idéia, e declaram, aos quatro ventos, que não há mais Direita e Esquerda. Se se detivessem, por um segundo apenas, para pensarem na conclusão a que chegariam com tal assertiva, entenderiam que, se todos os políticos, atualmente, defendem a mesma ideologia, todos os debates políticos seriam uma farsa. No Brasil, por exemplo, é uma farsa (e em boa parte do mundo também, suspeito), afinal todos os partidos são de Esquerda, em defesa de idéias da Esquerda, o que não quer dizer que as idéias da Direita não existem. Elas existem, mas não há partido político que a defenda. Havendo apenas um conjunto ideológico, debate não pode haver, é óbvio. Mas os defensores do fim das ideologias de Esquerda e de Direita não atentam para esse detalhe. As pessoas que defendem tal idéia não percebem o absurdo contido nos seus pensamentos, e não notam que eles são toscos, e não entendem que estão a proferir uma sandice, um desarrazoado, e elas ainda têm o desplante, em sua ignorância orgulhosa, de ofenderem e desprezarem quem lhes revela a incoerência e a inconsistência dos seus argumentos. Se se considerar que não mais existe Direita e Esquerda, tem-se, obrigatoriamente, de concluir que é uma farsa a política brasileira. E quem aponta tal idéia para os defensores da inexistência das distinções ideológicas, ouve réplica sem pé nem cabeça, ditas com tom de voz de intimidar. E se alguém diz para eles que, não havendo diferenças entre partidos políticos e que todos eles defendem a mesma idéia, então pouco importa quem é o governante, e qual é seu o partido, pois todos os políticos são farinhas do mesmo saco, eles retrucam, enraivecidos, e tentam desmerecer quem deles discorda. O que há na cabeça de tais pessoas? Idéias pré-concebidas? Capacidade de raciocínio destruída por um sistema educacional concebido para impedir as pessoas de pensarem?

Vejamos um exemplo, banal, de ausência de raciocínio, que não é incomum de se ouvir – e há muitos exemplos similares a este: Uma pessoa afirma que os bandidos, antes mesmo de um sistema de segurança ser inventado, sabem como violá-lo. Onde está a asneira? Temos de nos perguntar: Como um bandido pode saber violar uma fechadura que ainda não foi inventada? O bandido, antes da invenção da fechadura, não pode conhecer-lhe os mecanismos. Conhecê-lo antes da invenção dele é impossível. Então, por que há pessoas que pensam que há bandidos que estão sempre adiante de todos, são capazes de se anteciparem a tudo? Acredito que isso se deve à idéias preconcebidas. Não é incomum ouvirmos relatos de façanhas protagonizadas por bandidos, que violaram sistemas de seguranças de empresas, de bancos, de governos, com facilidade incomum. Dissemina-se, com tais relatos, uma idéia falsa: a de que os bandidos são prodígios de inteligência, são audazes, geniais, e humilhariam o Einstein em uma prova de física. E em tais relatos, os policiais, os delegados, os representantes das leis são apresentados como tolos – é o que se vê nos filmes e nas novelas. Presumo que tais idéias penetraram, profundamente, na mente das pessoas, sem que elas tenham percebido, e elas nunca se perguntam se o que pensam faz sentido, ou se é uma idéia sem pé nem cabeça.

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